Angelus

Three times, nine times... A ring recorded in a small village in the south of France. Angelus rings several moments in the day, in France at least: 7:00 AM, 12:00 AM and 7:00 PM. It's an old tradition, dating from the days when people couldn't read hours on a clock.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O sobrenome de Deus

PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
 
 O sobrenome de Deus
 
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 51 de 19 de Dezembro de 2013
O homem é o sobrenome de Deus: de facto, o Senhor pega o nome de cada um de nós — quer sejamos santos quer pecadores — para fazer dele o próprio sobrenome. Porque ao encarnar-se o Senhor fez história com a humanidade: a sua alegria foi partilhar a sua vida connosco, «e isto comove: tanto amor, tanta ternura».
Foi com o pensamento dirigido ao Natal já iminente que o Papa Francisco comentou na terça-feira, 17 de Dezembro, as duas leituras propostas pela liturgia da palavra, tiradas respectivamente do Génesis (49, 2.8-10) e do Evangelho de Mateus (1, 1-17). No dia do seu septuagésimo sétimo aniversário o Santo Padre presidiu como de costume à missa matutina na capela de Santa Marta. Concelebrou entre outros o cardeal decano Angelo Sodano, que lhe expressou as felicitações de todo o Colégio cardinalício.
Na homilia, centrada na presença de Deus na história da humanidade, o bispo de Roma indicou em dois termos — herança e genealogia — as chaves para interpretar respectivamente a primeira leitura (relativa à profecia de Jacob que reúne os seus filhos e prediz uma descendência gloriosa para Judá) e o excerto evangélico que contém a genealogia de Jesus. Reflectindo em particular sobre esta última, evidenciou que não se trata de «uma lista telefónica», mas de «um tema importante: é história pura», porque «Deus enviou o seu filho» entre os homens. E, acrescentou, «Jesus é consubstancial ao Pai, Deus; mas também consubstancial à Mãe, uma mulher. E esta é aquela consubstancialidade da mãe: Deus fez-se história, Deus quis tornar-se história. Está connosco. Caminhou connosco».
Um caminho — prosseguiu o bispo de Roma — iniciado há muito tempo, no Paraíso, logo depois do pecado original. De facto, a partir daquele momento, o Senhor «teve uma ideia: caminhar connosco». Por isso «chamou Abraão, o primeiro nomeado nesta lista, e convidou-o a caminhar. E Abraão começou aquele caminho: gerou Isaac, e Isaac gerou Jacob, e Jacob, Judá». E assim por diante, avançando na história da humanidade. Portanto, «Deus caminha com o seu povo», porque «não quis salvar-nos sem história; quis fazer história connosco».
Uma história, afirmou o Pontífice, feita de santidade e de pecado, porque na lista da genealogia de Jesus há santos e pecadores. Entre os primeiros o Papa recordou «o nosso pai Abraão» e «David, que depois do pecado se converteu». Entre os segundos indicou «pecadores de alto nível, que cometeram pecados graves», mas com os quais Deus igualmente «fez história». Pecadores que não souberam responder ao projecto que Deus tinha imaginado para eles: como «Salomão, tão grandioso e inteligente, que acabou como um pobrezinho que nem sabia como se chamava». E no entanto, constatou o Papa Francisco, Deus estava também com ele. «E isto é bonito: Deus faz história connosco. E mais, quando Deus quer dizer quem é, diz: eu sou o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob».
Eis por que à pergunta «qual é o sobrenome de Deus?», para o Papa Francisco é possível responder: «Somos nós, cada um de nós. Ele toma o nosso nome para fazer dele o seu sobrenome». E no exemplo oferecido pelo Pontífice não estão só os pais da nossa fé, mas também pessoas comuns. «Eu sou o Deus de Abraão, de Isaac, de Jacob, de Pedro, de Mariazinha, de Harmony, de Marisa, de Simão, de todos. De nós assume o sobrenome. O sobrenome de Deus é cada um de nós», explicou.
Eis a constatação de que, tomando «o sobrenome do nosso nome, Deus fez história connosco»; aliás, ainda mais: «deixou que escrevêssemos a história». E nós ainda hoje continuamos a escrever «esta história» que é feita «de graça e de pecado», enquanto o Senhor não se cansa de nos seguir: «esta é a humildade de Deus, a paciência de Deus, o amor de Deus». De resto, também «o livro da Sabedoria diz que a alegria do Senhor está entre os filhos do homem, connosco».
«Ao aproximar-se o Natal» para o Papa Francisco — como ele mesmo confidenciou concluindo a reflexão — foi natural pensar: «Se ele fez a sua história connosco, se tomou o seu sobrenome de nós, se deixou que escrevêssemos a sua história», nós por nossa vez deveríamos deixar que Deus escrevesse a nossa. Porque, esclareceu, «a santidade» é precisamente «deixar que o Senhor escreva a nossa história». E estes foram os votos de Natal que o Pontífice quis dirigir «a todos nós». Felicitações que são um convite a abrir o coração: «Faz com que o Senhor escreva a tua história e que tu deixes que Ele a escreva».
Na missa celebrada na manhã de segunda-feira, 16 de Dezembro, o Papa quis recordar que ser profeta é uma vocação de todos os baptizados. Fê-lo, como de costume, inspirando-se na palavra de Deus da liturgia do dia. O Pontífice repetiu as palavras do livro dos Números (24, 2-7.15-17b) que delineiam a figura do profeta, «oráculo de Balaão, filho de Beor e oráculo do homem com olhar penetrante; oráculo de quem ouviu as palavras de Deus». Eis — explicou — «é este o profeta»: um homem «que tem o olhar penetrante e que escuta e pronuncia as palavras de Deus; que sabe ver no momento e ir rumo ao futuro. Mas antes escutou a palavra de Deus». De facto, «o profeta tem três momentos dentro de si». Antes de tudo, «o passado: o profeta — disse o Santo Padre — está ciente da promessa e tem no seu coração a promessa de Deus, mantém-na viva, recorda-a, repete-a». Mas «depois observa o presente, o seu povo e sente a força do espírito para dizer uma palavra que o ajude a erguer-se, a prosseguir o caminho rumo ao futuro».
Portanto, continuou o Papa, «o profeta é um homem de três tempos: promessa do passado, contemplação do presente, coragem para indicar o caminho rumo ao futuro». E recordou que «o Senhor sempre conservou o seu povo com os profetas nos momentos difíceis, nos quais o povo se sentia desanimado ou abalado; quando o templo não existia; quando Jerusalém estava sob o domínio dos inimigos; quando o povo se questionava no seu íntimo; mas, Senhor, tu prometeste-nos isto e agora o que acontece?». A este propósito, acrescentou: «Talvez tenha acontecido o mesmo no Coração de Nossa Senhora, quando estava aos pés da cruz: Senhor, tu disseste-me que este seria o libertador de Israel, o chefe, que nos daria a redenção; e agora?».
Certamente, explicou o Papa, «talvez o povo de Deus que acreditava, que ia rezar no templo, chorava no seu coração porque não encontrava o Senhor. Faltava a profecia. Chorava no seu coração como Ana, a mãe de Samuel, chorava pedindo a fecundidade do povo». A fecundidade, especificou o Pontífice, «que vem da força de Deus, quando Ele desperta em nós a memória da sua promessa e nos impele para o futuro com a esperança. Este é o profeta. É o homem do olhar penetrante, que ouve as palavras de Deus».
Na celebração de 13 de Dezembro, o Pontífice reflectiu sobretudo acerca do trecho do Evangelho de Mateus (11, 16-19) no qual Jesus compara a geração dos seus contemporâneos «com aqueles rapazes sentados nas praças que se dirigem aos outros companheiros e dizem: tocámos a flauta e não dançastes, recitámos uma elegia e não chorastes». Existem cristãos — disse — que sentem «uma certa alergia aos pregadores da palavra»: aceitam «a verdade da revelação» mas não «o pregador», preferindo «uma vida enjaulada». Aconteceu nos tempos de Jesus e infelizmente continua a acontecer hoje naqueles que vivem fechados em si mesmos, porque têm medo da liberdade que vem do Espírito Santo.
O Pontífice exortou a rezar por eles e também por nós mesmos, a fim de que «não nos tornemos cristãos tristes», que não deixam que «o Espírito Santo tenha a liberdade de vir até nós através do escândalo da pregação».
Durante a missa celebrada na manhã de quinta-feira, 12 de Dezembro o Papa Francisco frisou que o Natal é uma festa na qual se faz muito barulho, enquanto vivemos este período de expectativa. Seria importante, ao contrário, redescobrir o silêncio, como um momento ideal para sentir a musicalidade da linguagem com a qual o Senhor nos fala. Ele «aproxima-se» de nós. «Quando vemos um pai ou uma mãe que se aproxima do filho — explicou o bispo de Roma — percebemos que se tornam pequenos, falam com voz de criança e fazem gestos de criança». Quem os vê pode pensar que são ridículos. Mas «o amor do pai e da mãe tem necessidade de se aproximar», de «se abaixar ao mundo da criança». E mesmo se eles falassem normalmente, a criança compreendê-los-ia; «mas eles preferem falar como criança. Aproximam-se. Tornam-se crianças. E assim é o Senhor».
Certamente, continuou o Pontífice, devemos ouvir a palavra do Senhor, o que nos diz; mas devemos também ouvir «como o diz». E devemos fazer como Ele, isto é «fazer o que diz, mas fazê-lo como o diz: com amor, com ternura, com “condescendência” para com os irmãos».
«Impressionou-me sempre — confidenciou o Papa — o encontro do Senhor com Elias, quando o Senhor falou com Elias». Estava sobre o monte e quando o viu passar «o Senhor não estava no granizo, na chuva, na tempestade, no vento... O Senhor estava na brisa suave» (cf. 1 Rs 19, 11-13).
«Esta — disse o Papa Francisco — é a música da linguagem do Senhor. Ao prepararmo-nos para o Natal, devemos ouvi-la. Far-nos-á bem». Geralmente o Natal é «uma festa com muito barulho. Far-nos-á bem um pouco de silêncio», para «ouvir estas palavras de amor, de muita proximidade, estas palavras de ternura». E concluiu: «Devemos fazer silêncio neste tempo para que, como diz o prefácio, sejamos vigilantes na espera».
 



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