PAPA FRANCISCO
MEDITAÇÕES MATUTINAS NA SANTA MISSA CELEBRADA
NA CAPELA DA DOMUS SANCTAE MARTHAE
Oração de louvor
Publicado no L'Osservatore Romano, ed. em português, n. 05 de 30 de Janeiro de 2014
É difícil justificar quem sente vergonha de cantar o louvor do Senhor, mas depois se lança em gritos de exultação pelo gol marcado pelo time preferido. É este o sentido da reflexão proposta pelo Papa Francisco na manhã de terça-feira 28 de Janeiro, durante a homilia da missa celebrada na capela de Santa Marta.
O Papa prolongou-se sobre a descrição da festa improvisada por David devido ao regresso da arca da aliança tal como é narrado na primeira leitura da liturgia do dia (2 Sm 6, 12-15.17-19). Face a este episódio «pensei imediatamente — confidenciou o Bispo de Roma — naquela palavra de Sara depois de ter dado à luz Isaac: “o Senhor fez-me dançar de alegria”. Esta idosa de 90 anos dançou de alegria». David era jovem, repetiu, mas também ele «dançava diante do Senhor. Este é um exemplo de oração de louvor». Alguns, acrescentou, poderiam pensar que se trata de uma oração «para os da renovação no espírito, e não para todos os cristãos. A oração de louvor é uma prece cristã para todos nós. E não tem importância se não somos bons cantores. De facto, explicou o Papa, não é possível pensar que «és capaz de gritar quando o teu time marca gol e não é capaz de cantar louvores ao Senhor, de sair um pouco da tua compostura para cantar ao Senhor».
Louvar a Deus «é totalmente gratuito», prosseguiu. «Não pedimos, não agradecemos. Louvamos: tu és grande. “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo...” Dizemos isto de todo o coração. É também um acto de justiça, porque ele é grande, é o nosso Deus. Pensemos numa boa pergunta que hoje podemos fazer: «como está a minha oração de louvor? Sei louvar ao Senhor? Ou quando rezo o Glória ou o Sanctus faço-o apenas com os lábios e não com todo o coração? O que me diz David quando dança? E Sara que dança de alegria? Quando David entra na cidade começa outra coisa: uma festa. A alegria do louvor leva-nos à alegria da festa». Festa que depois se alarga à família, «cada um — é a imagem proposta pelo Pontífice — em sua casa a comer o pão, a festejar». Mas quando David volta para o Palácio, tem que enfrentar a reprovação e o desprezo de Mical, a filha do rei Saul: «“Mas não tens vergonha de fazer o que fizeste? Como podes fazer isto, dançar diante de todos, tu que és rei? Não tens vergonha?”. Pergunto-me quantas vezes desprezamos nos nossos corações pessoas boas, povo bom que louva ao Senhor», de maneira espontânea sem seguir atitudes formais. O homem ou a mulher que louvam ao Senhor, que rezam louvando ao Senhor — e quando o fazem sentem-se felizes em dizê-lo — e se alegram «quando cantam o Sanctus na missa» são um homem ou uma mulher fecundos. Ao contrário, acrescentou Francisco, os que «se fecham na formalidade de uma oração fria, comedida, talvez acabem como Mical, na esterilidade da sua formalidade.
Na missa celebrada na manhã de segunda-feira, 27 de Janeiro, o Papa Francisco convidou a rezar por quantos não são notícia nos jornais mas dão força e esperança aos homens: são todos os bispos e sacerdotes «anónimos» que continuam a oferecer a sua vida em nome de Cristo no serviço às dioceses e às paróquias.
A reflexão do Pontífice inspirou-se na primeira leitura, tirada do segundo livro de Samuel (5, 1-7.10), que narra a unção do rei David. «Ouvimos — disse — a história daquela reunião» em Hebron, quando «todas as tribos de Israel vieram até David e o propuseram como rei». De facto, explicou, «David era o rei de Judá mas o reino estava dividido». Todos os anciãos do povo «viram que o único que podia ser rei era David». Assim «foram ter com ele para fazer a aliança». Juntos, prosseguiu o Papa «certamente falaram, debateram o modo como fazer a aliança. E no final decidiram elegê-lo rei». Mas «esta decisão não era, digamos, democrática»; mas era unânime: «tu és rei!».
E «este foi o primeiro passo — explicou o Pontífice — depois veio o segundo: o rei David concluiu a aliança» e os anciãos do povo «ungiram David rei de Israel». Eis, portanto, a importância da unção. «Sem esta unção — disse — David teria sido só o chefe, o organizador de uma empresa que levava em frente esta sociedade política que é o reino de Israel». Ao contrário, «a unção é outra coisa»; e precisamente «a unção consagra David como rei».
«Qual é a diferença — perguntou o Papa — entre ser um organizador político do país ou o rei ungido?». Quando David, explicou, «foi ungido rei de Judá por Samuel, era jovem, um rapazinho. A Bíblia diz que depois da unção o Espírito do Senhor desceu sobre David». E assim «a unção faz com que o Espírito do Senhor desça sobre a pessoa e esteja com ela».
Alguém, notou o Papa, poderia objectar: «Mas, padre, li num jornal que um bispo fez isto ou que um sacerdote fez aquilo!». Objecção à qual o Pontífice respondeu: «Sim, eu também li! Mas, diz-me: nos jornais são publicadas notícias sobre o que fazem tantos sacerdotes em muitas paróquias nas cidades e nas zonas rurais? Contam a enorme caridade que praticam? O grande trabalho que fazem para guiar o seu povo?». E acrescentou: «Não, isto não é notícia!». Vale sempre o famoso provérbio: «Faz mais barulho uma árvore que cai do que uma floresta que cresce».
O Papa Francisco concluiu a sua reflexão exortando a pensar «na unção de David» e, por conseguinte, «nos nossos bispos e sacerdotes corajosos, santos, bons e fiéis». E pediu para que rezemos por eles. «Graças a eles hoje nós estamos aqui, foram eles que nos baptizaram».
E na missa celebrada a 24 de Janeiro, memória litúrgica de são Francisco de Sales o Santo Padre afirmou que o diálogo se constrói com a humildade, até à custa de «engolir muitos sapos», porque não podemos deixar que no nosso coração se ergam «muros» de ressentimento e ódio.
Contudo, advertiu, «dialogar não é fácil», mas somente «com o diálogo podemos construir pontes de relação e não muros que nos afastam». E frisou — «para dialogar é necessária a humildade». A base do diálogo é formada por três elementos: humildade, mansidão e fazer-se tudo para todos. Depois, sugeriu um conselho prático: para iniciar o diálogo «é necessário não deixar passar muito tempo». De facto, os problemas devem ser enfrentados «o mais rápido possível, assim que a tempestade passar». É preciso «aproximar-se imediatamente do diálogo porque o tempo faz crescer o muro». E, concluiu, pedindo a intervenção de «são Francisco de Sales, doutor da doçura», que nos conceda «a graça de construir pontes com os outros, jamais muros».
Toda a reflexão do Pontífice na missa celebrada na manhã de quinta-feira, 23 de Janeiro, foi centrada no tema do ciúme e da inveja, definidos como as portas através das quais o diabo entrou no mundo. O Papa concluiu a reflexão com o convite à oração a fim de que a «semente do ciúme não seja lançada» nas comunidades cristãs e a inveja não se instale no coração dos crentes.